quarta-feira, 28 de setembro de 2011

É preciso que ele se leve a sério

Dizem que De Gaulle declarou a falta de seriedade desta terra. Isso nos idos de 1960. De lá para cá, só fizemos confirmar o que teria dito o estadista francês. Se ele não disse, poderia ter dito com propriedade. E há diversas situações em que isso se evidencia. A mais recente delas é o aumento do IPI para automóveis, um imposto de importação disfarçado para não ser punido na Organização Mundial do Comércio.

Os argumentos do governo para fazer essa baixaria tentam se passar pelos mais corretos. Defesa do emprego nacional. Estímulo à indústria nacional. Tudo em defesa do país, inclusive mudar as regras do jogo no meio da partida. Jogo sujo, em suma, e o maior motivo para sermos acusados de pouca seriedade. O problema é que nada disso se sustenta nem diante da análise mais rasteira.

A defesa dos empregos, por exemplo. O aumento de IPI vale só para países com os quais o Brasil não tem acordos comerciais. Em suma, para todos os países, menos Mercosul e México. Que representam 55% das importações. Se há um problema a ser evitado, Mercosul e México representam mais da metade dele. E de lá só quem importa são as montadoras já estabelecidas no Brasil. Se contarmos os demais países de onde essas empresas importam (EUA, Japão e Europa), isso chega a mais de 70% das importações. Ou seja, quem emprega na indústria é quem mais importa (carros). Possivelmente porque produz o que ninguém mais quer. Não seria o caso de produzir o que o povo compra? Emprego por emprego, as importadoras independentes também empregam um bocado de gente.

Se a desculpa é estímulo à indústria nacional, por que as indústrias daqui importam tanto? E continuarão a importar, mesmo com o aumento do IPI?

Se o governo quer mesmo estimular a indústria nacional, deveria dar incentivo à criação de empresas brasileiras. De uma fabricante nacional de carros, não às multinacionais. Deveria incentivar as empresas de autopeças nacionais. Só não venha nos dizer que está defendendo empregos ou a indústria brasileira. Chega de achar que todo mundo tem "OTÁRIO" escrito na testa... O aumento de IPI tem nome e sobrenome. E, infelizmente, não é o do consumidor brasileiro.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Independência

Neste 7 de setembro, milhares de pessoas se reuniram para protestar contra a corrupção. E é decepcionante que tenham sido milhares e não milhões. Por outro lado, mostra que ainda tem gente com capacidade de se indignar. O que é, na maior parte dos casos, tudo de que precisamos para que algo seja feito a respeito. Foram de preto. E é por isso que o blog se tinge de preto, também. Em solidariedade ao protesto e a quem acredita que ainda falta muito para usarmos verde e amarelo em um 7 de setembro. Hoje, o Brasil espera luto, não comemoração.

No protesto, apesar dos pedidos e da importância de caracterizar o movimento como apolítico, sempre aparece algum imbecil querendo politizar a coisa. Com a camiseta e as faixas deste ou daquele partido. Como aconteceu com o movimento dos caras-pintadas, do qual eu tentei participar, mas desisti, depois que diversas legendas políticas tentaram se apropriar da coisa. Partidos, criem vergonha na cara: há coisas que emanam do povo, e ao povo devem pertencer. Não maculem uma iniciativa legítima, natural, com suas pretensões nojentas de poder.

No final das contas, é por isso que todos os partidos decepcionam aqueles que acreditam em suas propostas. Porque, no frigir dos ovos, todo o discurso de lisura, de moralidade, de empenho pelo povo, se converte nas vitórias, na obtenção do poder, em ter de meter a mão na merda, como um famoso ator caiu na besteira de dizer. Melhor seria ter alguém disposto a fazer uma faxina em vez de "meter a mão na merda". Joga um balde nela, meu amigo. Varre, limpa, higieniza! É isso que queremos. É disso que precisamos.

Que este movimento seja inicial, mas permanente. Que os organizadores consigam mantê-lo limpo, livre de partidarismos. Por um bem maior. Por independência real e verdadeira. Já mostramos que não ligamos para times, para ideologias, para discurso vazio. Queremos um país melhor. Justo. Fraterno. De oportunidades. Moral. Incorruptível. Independente de tudo o que nos acorrenta a muito menos do que podemos ser. Porque, antes de mais nada, somos brasileiros, algo que também só nos separa do restante da humanidade, mas que, de momento, pode e deveria nos ajudar a ser melhores do que somos.

domingo, 4 de setembro de 2011

Mobilização

No prédio onde moro, uma reunião semanal foi aos poucos perdendo participação. Isso porque virou balcão de reclamações, sem que nada de efetivo emergisse. Ou emergisse em uma medida inferior às expectativas. Desistiram de consertar as coisas.

Hoje, fazemos o mesmo com o país. A Jaqueline Roriz é pega aceitando propina, confessa e, na hora de ser cassada, alegam que ela não quebrou decoro porque não era deputada. Cá entre nós, como alguém concebe que uma deputada possa ser deputada se já foi flagrada sendo corrupta? Ela não tem condição de exercer cargo público nenhum. No entanto, o brasileiro simplesmente ignora a situação. Passou tudo em brancas nuvens, como se isso fosse normal.

É possível que o brasileiro de hoje, como o de ontem, esteja simplesmente satisfeito com quem "rouba, mas faz". Em outras palavras, se ele estiver indo bem, o mundo que se exploda. E isso é lamentável. É esse o povo que, dentro de alguns anos, vai sofrer as consequências de sua permissividade moral, de sua apatia, de sua falta de vergonha na cara. Bem dizia Gonzaguinha:



Lamento por vocês. Lamento por mim. Lamento por todos nós. Dia 7 de setembro vestirei preto, em luto por um país que poderia ser muito mais do que é. E que não sente a menor vergonha de se apequenar.